
Mónica Esquetim

Mónica. Quem me é querido trata-me por »Mó». Tenho 20 anos e muitas vezes sinto que tenho 12, gostava de ser eternamente criança, ou de quando em quando poder retornar à inocência característica desse meu tempo bonito.
A escrita e a dança fazem-me feliz. A minha família faz-
-me ser feliz e os meus amigos deixam-me feliz.
Sonho, muito, e a palavra »conformidade» não existe no dicionário da prateleira branca do meu quarto.
É nele que escrevo tudo o que penso.
A prateleira é branca ...O meu grande sonho, e sonho grande, é ser Médica e a bata é da cor da prateleira.
Querer ser
Não sabia se daria errado e se a ânsia se iria designar em desilusão ou felicidade abrupta de um coração que, hoje, sonha cada vez mais alto. Nessa altura, na minha imaginação e pensamentos, vivia a irrealidade que não me pertencia, e contava por aí, muitas vezes, que tinha um sonho. Medicina. Não sei bem a partir de que momento essa vontade se tornou tão imensa, só sabia que não tinha sido há tanto tempo assim como desde o primeiro segundo em que abri os olhos e a minha mãe mos viu pela primeira vez.
Hoje, acordo todos os dias a saber que o tenho, que o meu lugar foi finalmente conquistado e que já ninguém mo tira, no entanto, ainda há instantes em que sinto todo o meu corpo sob o efeito de um estado de dormência, que tudo à minha volta parece ser fictício e que presencio apenas o sonho que vai durando dias.
Levanto-me, visto-me, e geralmente não tomo logo o pequeno-almoço, vou para o lugar que sempre ambicionei com o estômago vazio e coração imensamente cheio, e, agora, todos os dias sou inteiramente feliz.
Sou de Medicina, serei para sempre de Medicina, porque mesmo sem de imediato o saber, sei agora que é tudo aquilo que eu sempre quis.
Fazer o medo surgir
Apesar de tudo, todos temos medo. Medo das indecisões, medo das mudanças, medo das instabilidades do tempo e da inevitabilidade da vida. Temos medo porque estamos vivos, e a sua persistência dá-se porque, um destes dias, vamos morrer. Assim, ter medo é ser mortal e não o ter é não ser humano.
É giro. É giro porque os medos são inqualificáveis, inigualáveis e independentes de quem os sente. Acontecem porque são condição obrigatória da integridade humana e não dependem de nenhuma vontade que possamos pensar ter.
Ter medo? Tenho muitos!
Poucos são os que se deixam viver
À beira do rio um homem está sentado, vejo que olha a água que escorre sem a ver passar como quando iludido do seu parecer esconde tudo o que nele existe de real. É então, a vida da gente, definida pela monotonia de cirandar sem nos darmos conta e aparentar-se aos nosso olhos perpétua, mas imóvel, sem se deixar empunhar por quem lhe pertence. Deambulamos com ela, ou ela nos encoleira porque é mais rápida, mais uma vez não nos damos conta que é a vida que nos leva e não »a vida que levamos é: ».
O homem continua sentado na beira do rio, não sei o seu nome, por isso chamo-lhe de homem. O tempo, comandante da vida que o puxa, passa e a vida anda e ele vai galgando atrás dela, atrás do tempo? Não. Continua sentado, não hã ínfimo sinal de qualquer movimento que mude, sequer, a sua posição vigente, e, como o primeiro leito de água que fitou os seus olhos aquando ali se sentou, com a água a sua vida se vai cruzando entre as pedras, mesmo que pequeninas, da calha, sem aprimorar as ambições que façam não desaparecer o seu intrínseco propósito por baixo das pequenas rochas.
Irrecuperável.
Começo a andar, o homem está cada vez mais longe, cada vez mais pequeno. Fui por onde a água seguiu, em busca de qualquer sinal de vida.
Conversas com o desassossego
Ontem não te vi.
A inquietude derivada do ciúme de não te apreender com os olhos motiva a ansiedade que só se cura quando te fito. Quer dizer, não sei se cura, muitas vezes a ansiedade é maior do que o próprio que a suscita e colocá-la a encargo de quem mais se gosta não seria, em parte alguma, afirmação do amor que por ela se sente, mas, talvez, o rebuliço se torne-se mais subtil e menos maljeitoso.
Enquanto nisso penso, são algumas, mas poucas, as personagens que se fixam no meu pensamento. As poucas são as que falo em pena por não ter mirado ontem. Antes de ontem. Antes antes de ontem. A ansiedade duplicada, triplicada...só preciso de te ver, e que tu me queiras ver.
Não quero que, nunca mais, seja »ontem», a partir do momento em que te hei de ver de novo.
Sonho
Há os que parecem nascer connosco e os que brotam com o experienciar do tempo. Sonhos! Movedores de alguma coisa que não nos deixa descansar porque se quer ficar a sonhar acordado. Mesmo que não passem do que são, tentar reverter essa designação nunca será em vão. Mesmo para quem falha. O provar a que sabe a ousadia e a ambição, o desconforto e o desconhecido seguro. Poderá nunca passar de um sonho, mas fará para sempre parte de algo que fomos, sem deixar de ir sendo.
A cor do que não se vê
Se em vez disto vivêssemos na exatidão das coisas? Se soubéssemos quanto ar nos é garantido assim como quantos abrir de olhos? Talvez fosse mais intenso, mais nervoso, fatigante, íntegro, e só porque nos seria conhecido quanto tempo. Dormiríamos menos! Talvez.
O Humano é imprevisível!
Se o passar do tempo se resumisse à busca incessante do que ambicionamos e todo ele fosse espera sôfrega por finalmente poder deixar a vida acontecer?
O que seria falar sobre o fim. E ele existe, e é bem mais certo que qualquer próximo piscar de olhos.
Se soubéssemos...
O espelho usado para compor a fatiota do dia-a-dia teria uma marca de água num dos seus quatro cantos, se for rectangular, remetendo-nos a consciência para o tempo que resta e lembrando-nos simultaneamente que , se calhar, nem presta lutar pelo destino. Por vezes tenho pressa, e a indefinição do futuro revolta e deixa vigilante o que de qualquer circule pelo meu corpo. Fico num alvoroço, quero saber quanto tempo tenho.